Como Devemos Viver? Refletindo sobre a Nova Criação Pós-70 d.C.

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A questão sobre como devemos viver após o marco de 70 d.C. é uma das mais profundas que se pode abordar dentro da escatologia cristã. Após receber várias perguntas sobre o tema, decidi responder diretamente e explorar o significado desse evento, investigando como ele impacta nossa visão de moralidade, de continuidade da criação e da vida cristã.

O Significado de 70 d.C. na Escatologia Cristã

Quando discutimos o ano 70 d.C., muitos pensam imediatamente no fim dos tempos, no fechamento definitivo de uma era. O evento, marcado pela destruição de Jerusalém e do templo, é frequentemente interpretado como uma conclusão divina. Entretanto, ao examinarmos as Escrituras e refletirmos sobre o contexto da escatologia, observamos que essa destruição não simboliza o término absoluto, mas, ao contrário, representa o início de uma nova criação em Cristo.

A Nova Criação e a Vida “em Cristo”

De fato, a vida “em Cristo” é um dos conceitos mais fundamentais para entender a visão escatológica apresentada nas Escrituras. Paulo, por exemplo, recorre repetidamente à expressão “em Cristo”, e isso não é por acaso. Esse termo encapsula a ideia de que, ao invés de um encerramento, a vinda de Cristo em 70 d.C. propicia uma nova era de proteção, redenção e continuidade para os fiéis. É um refúgio, uma nova aliança, onde se estabelece um “santuário” em que não há destruição nem separação. Para os seguidores, viver “em Cristo” significa estar dentro dessa nova criação, onde se desfruta da justiça e da paz.

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Destruição e Renovação: A Antiga e a Nova Terra

No livro de Isaías, particularmente nos capítulos 65 e 66, encontramos uma descrição poderosa da transformação. Isaías profetiza a criação de um novo céu e uma nova terra, onde a antiga criação, representada pelo antigo Israel e suas leis, seria superada. Assim, a antiga ordem seria destruída, e um novo mundo nasceria em seu lugar. Aqui, o uso do termo “destruição” deve ser compreendido não como aniquilação, mas como uma renovação do pacto. Essa renovação, em vez de remover a humanidade da Terra, cria um ambiente onde as pessoas podem viver em plena comunhão com Deus.

Essa nova criação, então, não significa um afastamento da Terra ou um fim abrupto de toda moralidade e ética. Ao contrário, ela configura uma nova moralidade, uma nova forma de viver onde a justiça se torna o princípio norteador. É uma criação em que os valores cristãos de retidão, paz e justiça se manifestam de maneira concreta e contínua.

Um Novo Início: Continuando a Vida em Justiça e Retidão

Ao ver essa nova criação, muitos poderiam se perguntar se ela não representa apenas uma continuação da antiga. Contudo, é preciso entender que o novo céu e a nova terra não são uma simples repetição da antiga ordem. Eles trazem, em seu cerne, uma renovação completa, como se a história humana tivesse chegado ao seu auge. Um exemplo ilustrativo dessa ideia é encontrado no filme “Noé”, quando, após o dilúvio, a esposa de Noé observa que “tudo terminou”. Contudo, Noé a corrige dizendo que, na verdade, “tudo começou”.

Essa visão de recomeço não é apenas simbólica; ela expressa a própria essência da escatologia cristã: o fim de um ciclo representa o início de outro, mais pleno, mais justo. Em Cristo, temos essa nova criação, não como um afastamento das obrigações morais e éticas, mas como uma oportunidade para viver de maneira plena e justa. A nova criação é a “plena flor” daquilo que começou no antigo pacto e que, em Cristo, atinge sua maior expressão.

A Natureza da Nova Criação: Um Refúgio de Paz e Justiça

Isaías 66 oferece uma visão ainda mais detalhada da nova criação. Ele a descreve como um “santuário” onde não há destruição, onde não há dor. Este santuário, descrito como “o Monte Santo do Senhor”, representa o estado de bênção e paz que Deus concede aos seus fiéis. É importante notar que essa descrição não implica que os seres humanos sejam removidos da Terra, mas sim que eles vivem em harmonia com os preceitos divinos, numa nova aliança que restaura o plano original de Deus para a criação.

Assim, no contexto da nova criação, a humanidade é chamada a viver uma vida de retidão. Em vez de abolir as responsabilidades morais, o fim da antiga ordem serve para afirmar os valores eternos de Deus: justiça, paz e comunhão. No novo céu e na nova terra, encontramos uma renovação desses princípios, estabelecidos agora num estado de perpétua bênção e retidão.

Considerações Finais

Portanto, viver “em Cristo” na nova criação não é uma experiência passiva. Trata-se de um chamado para agir conforme os princípios divinos, de modo que a vida terrena, longe de ser destruída ou desconsiderada, é valorizada como uma expressão do novo pacto. A chegada do novo céu e da nova terra representa a continuidade de uma história sagrada, onde o passado é honrado e o futuro é construído sob a luz do amor e da justiça de Deus.

Assim, ao refletir sobre como devemos viver após 70 d.C., a resposta não se encontra em uma ruptura completa, mas na continuidade e aprofundamento de uma vida justa, ancorada na nova criação de Deus. É a realização plena do propósito divino, onde cada aspecto da vida é integrado em uma comunhão permanente com Ele.

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