Caros leitores,
Hoje, pretendo fazer uma reflexão muito interessante sobre a palavra satanás que em hebraico é ‘satan’ ou aramaixo ‘satana’, do meu livro recém lançado ‘33 Maneiras de Matar o Diabo – Volume 1’, esta análise será sobre a a importância de uma interpretação consciente e contextualizada dos textos sagrados. Às vezes, a interpretação literal de passagens pode nos levar a conclusões que, ao serem analisadas de maneira mais aprofundada, revelam nuances e significados distintos.
Ou seja, nem sempre a leitura de um texto bíblico e uma aplicação imediata simplista e literal, pode nos dar a exatidão do que o texto realmente nos mostra. Vejamos, por exemplo, a primeira vez que a Bíblia narra em seus escritos a palavra ‘satanás’, que é Números 22:22, onde se menciona um “anjo do Senhor” como um adversário (satan). No texto é usada a palavra ‘satan’ anjo do Senhor, como um adversário:
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E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário (satan – לשָׂטָן ); e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele.
Números 22: 22
Em hebraico, o texto de Números 22:22 é escrito da seguinte forma:
וַיִּחַר אַף אֱלֹהִים כִּי הוֹלֵךְ הוּא וַיִּתְיַצֵּב מַלְאַךְ יְהוָה בַּדֶּרֶךְ לְשָׂטָן לוֹ וְהוּא רֹכֵב עַל אֲתֹנוֹ וּשְׁנֵי נְעָרָיו עִמּוֹ 1
Transliterado para o alfabeto latino, fica assim:
Vayichar af Elohim ki holech hu, vayityatsev mal’ach Adonai ba’derech l'(satan) lo, v’hu rocheiv al atono u’shnei ne’arav imo.
Logo se usarmos a simplicidade literal deste texto, e a ideia da tradição cristã em relação a satanás, podemos dizer que o anjo do Senhor era satanás, porém isso é plausível pois satanás é uma condição e não um estado, é um adjetivo e não um substantivo ou pronome pessoal.
Por isto que considerar o contexto histórico e cultural, uma perspectiva diferente emerge, e essa é a proposta do livro “As 33 maneiras de Matar o Diabo”, levar tudo isto a consideração e abordar esse tema diferente da tradição.
Em muitas tradições antigas, inclusive a hebraica, a palavra “anjo” não estava vinculada apenas a entidades celestiais benevolentes, mas também podia se referir a mensageiros ou pessoas eminentes, com príncipes por exemplo. No caso de Números 22:22, o “anjo do Senhor” poderia estar agindo como um mensageiro divino, desempenhando um papel específico na narrativa.
Na tradição hebraica, a palavra “mal’akh” (מַלְאָךְ), traduzida como “anjo”, significa literalmente “mensageiro”. Essa palavra podia se referir tanto a seres celestiais quanto a seres humanos que desempenhavam o papel de mensageiros, como profetas, sacerdotes ou líderes políticos.
Em algumas passagens do Antigo Testamento, a palavra “mal’akh” é usada para se referir a seres humanos, como em Gênesis 32:3, onde Jacó envia mensageiros (“mal’akhim”) a Esaú. Em outras passagens, a palavra é usada para se referir a seres celestiais, como em Números 22:22, onde o anjo do Senhor se opõe a Balaão.
Essa ambiguidade na utilização do termo “mal’akh” reflete a visão hebraica de que a comunicação entre Deus e a humanidade podia ocorrer através de diferentes canais, tanto celestiais quanto terrenos. A figura do anjo, portanto, não se limitava a seres celestiais benevolentes, mas podia abranger uma variedade de agentes e mensageiros divinos.
Outro exemplo relevante pode ser encontrado em passagens que falam sobre “conflitos divinos” ou desafios enfrentados por figuras como Jó. Em vez de interpretar essas narrativas como confrontos entre Deus e um ser espiritual maligno, podemos enxergá-las como explorando questões mais amplas sobre a natureza da fé, do sofrimento humano e da justiça divina.
Essa abordagem mais reflexiva nos lembra da importância de levar em conta o contexto histórico e cultural, bem como a diversidade de interpretações dentro das tradições religiosas. Ao desvendarmos os textos sagrados com sabedoria, enriquecemos nossa compreensão espiritual e promovemos um diálogo mais profundo entre as diversas interpretações presentes em nossas comunidades de fé.
Se você deseja aprofundar sua compreensão sobre o tema e explorar passagens como a de Jó, descobrirá que ele não foi tentado por um ser espiritual, mas por pessoas próximas a ele. Além disso, entenderá de onde a tradição retirou a ideia do diabo como um ser espiritual em Ezequiel. O livro faz uma releitura desses textos e de outras passagens, como a tentação de Jesus e o endemoniado de Gadara, tudo sob uma perspectiva renovada. “33 Maneiras de Matar o Diabo – Volume 1, 2 e 3” é uma leitura indispensável. Adquira seu exemplar e embarque nesta jornada de conhecimento e reflexão com André Pimentel.
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