Os Sinais Proféticos e a Linguagem Apocalíptica na Bíblia

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Introdução

A interpretação dos textos bíblicos, especialmente os que tratam das profecias apocalípticas, é um desafio fascinante e complexo. No Evangelho de Mateus, encontramos um trecho que tem gerado muitas discussões e análises ao longo dos séculos: “Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados” (Mateus 24:29). Esta passagem, parte do Sermão Profético de Jesus, oferece uma visão intrigante sobre os eventos que se seguiriam à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.

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Advérbio de tempo “εὐθέως” (eutheós)

O advérbio “imediatamente” utilizado no versículo 29 é a chave para entender o tempo desses eventos. No grego original, a palavra é “εὐθέως” (eutheós), que significa “imediatamente”, “diretamente”, ou “em breve”. Esse termo ocorre 89 vezes no Novo Testamento e implica uma ação rápida e direta. A utilização dessa palavra específica sugere que os eventos descritos não poderiam estar distantes da tribulação mencionada no versículo 21: “Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mateus 24:21).

Linguagens nas profecias hebraicas

Para entender melhor essa linguagem, é essencial contextualizar os sinais cósmicos dentro da tradição profética hebraica. Textos como Amós 5:18,20 e 8:9, Isaías 13:10,13 e Joel 2:31 usam figuras de linguagem semelhantes para descrever julgamentos divinos e mudanças cataclísmicas. Estas descrições frequentemente representam a destruição de reinos ou nações como atos de julgamento de Deus, usando imagens de trevas, estrelas caindo e o sol se escurecendo.

Por exemplo, em Amós 5:18-20, lemos: “Ai dos que anseiam pelo dia do Senhor! Por que você quer este dia do Senhor? Será das trevas, e não da luz… Não será o dia do Senhor trevas e não luz? escuridão, que não tem luz?”. E em Isaías 13:10,13: “Por isso as estrelas dos céus e as suas estrelas não darão a sua luz; e o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não dará a sua luz… Porque eu abalarei os céus, e a terra se moverá do seu lugar, na indignação do Senhor dos Exércitos, e no dia do seu furor.”

Estas passagens ilustram que a linguagem apocalíptica frequentemente não deve ser interpretada literalmente, mas simbolicamente, como representações de eventos terrenais significativos, tais como a queda de impérios e a destruição de cidades. No contexto de Mateus 24, isso sugere que os sinais cósmicos poderiam simbolizar o julgamento divino sobre Jerusalém e os eventos dramáticos que ocorreriam naquela época.

A impossibilidade da interpretação futurista

É importante também considerar que a interpretação futurista, que coloca um intervalo de 2.000 anos entre os versículos 28 e 29 de Mateus 24, pode prejudicar a prática da boa exegese. Uma análise criteriosa revela que nenhuma profecia do Antigo Testamento cumprida levou milênios para se realizar. Isso reforça a ideia de que as profecias de Jesus deveriam se cumprir em um período relativamente curto após a tribulação dos seus dias.

A linguagem simbólica de trevas e abalos cósmicos é também vista em outras passagens apocalípticas, como em Joel 2:31: “O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor.” E em Isaías 50:3 e 51:6: “Eu visto os céus de escuridão, e faço de pano de saco a sua cobertura… Levante os olhos para os céus e olhe para a terra; porque os céus se dissolverão como fumaça, e a terra envelhecerá como roupas, e seus habitantes perecerão do mesmo modo; mas minha salvação será para sempre, minha justiça não perecerá.”

Essas representações simbólicas refletem a gravidade dos eventos profetizados e a intervenção divina no mundo humano. O uso dessas imagens serve para transmitir a mensagem de que mudanças profundas e julgamentos estão ocorrendo, muitas vezes envolvendo a queda de reinos e nações.

Conclusão

Portanto, ao examinar as passagens apocalípticas, é fundamental adotar uma abordagem que leve em conta a linguagem simbólica e a tradição profética hebraica. Interpretar esses textos literalmente pode levar a conclusões errôneas e a uma compreensão distorcida das intenções originais dos autores bíblicos.

Concluindo, a análise das profecias apocalípticas em Mateus 24 e em outras passagens bíblicas revela a importância de entender a linguagem simbólica utilizada pelos profetas. Reconhecer o contexto histórico e cultural em que essas profecias foram escritas nos ajuda a compreender melhor o seu significado e a aplicar suas lições em nossa vida espiritual hoje. Que possamos continuar a estudar e refletir sobre esses textos com discernimento e humildade, buscando sempre a verdade bíblica acima de interpretações religiosas distorcidas.

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